Notícias 2020

Um novo mapa de cobertura florestal de Santa Catarina: MonitoraSC

Terça, 15 Dezembro 2020

Os resultados do projeto MonitoraSC, contratado pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico Sustentável (SDE) e realizado pela Universidade Regional de Blumenau (FURB), foram apresentados hoje. O evento público (virtual) contou com a presença de Celso Albuquerque (Secretário da SDE), Valdez Rodrigues Venâncio (Presidente do IMA), Profa. Márcia Cristina Sardá Espíndola (Reitora da FURB), Profa. Letícia Sequinatto (Pró-Reitora de Pesquisa e Pós-Graduação) da UDESC, Gustavo S. C. Pinho (Coordenador-Geral de Inventário e Informação Florestal - CGINF/DPI/SFB/MAPA), Prof. Yosio Shimabukuro (INPE), Angela Paviani (Diretora de Biodiversidade e Clima) da SDE e dos integrantes da equipe MonitoraSC.

O projeto tinha como objetivo elaborar um novo mapa da cobertura florestal nativa, de reflorestamentos e de outros usos da terra em Santa Catarina. Foram empregadas tecnologias inovadoras de processamento de imagens do satélite Landsat-8, do ano de 2017, para identificar e mapear os diversos usos da terra.

Segundo os autores do estudo, é a primeira vez que o estado dispõe de um mapa tão detalhado e abrangente, com 12 diferentes temas mapeados, especificamente elaborado considerando as particularidades e a diversidade do território catarinense. O mapa tem uma confiabilidade maior que 95% para todos os tipos de cobertura e uso da terra. O mapa foi desenvolvido com metodologia específica e adaptada às condições ambientais de SC; inúmeros códigos computacionais abertos foram desenvolvidos para dar conta do complexo processamento de dados. Este mapa estabeleceu, com seu alto grau de confiabilidade (chamada tecnicamente de “acurácia”), uma linha base para o monitoramento permanente das florestas e outros usos da terra no estado.

De acordo com o mapa do MonitoraSC, florestas nativas cobrem 38,0% do território catarinense, equivalentes a 3,618 milhões de hectares, enquanto os reflorestamentos de Pinus spp. e Eucalyptus spp. cobrem 10,5% do estado, ou seja, 994.000 hectares. A agricultura corresponde a 16,7%, incluídas as áreas de cultivo de arroz irrigado (1,77%). Pastagens e campos naturais, por sua vez, correspondem a 29,2% do território.

Os autores também afirmaram que, pela primeira vez, foram mapeados detalhadamente em Santa Catarina os remanescentes da restinga, ps quais somam 74.290 hectares (0,78% do território). Além destas áreas, foram mapeados os locais de ocorrência potencial (ou original) da restinga; estas são áreas que, pelas suas características geológicas, geomorfológicas e de solo, potencialmente podem conter formações da restinga. Os remanescentes de restinga cobrem hoje 45,8% destas áreas “originais”; nos demais 54,2%, encontram-se hoje núcleos urbanos e cidades (em 18%), pastagens (em 23%), reflorestamentos (em 9%) e, em menor escala, culturas agrícolas (em 1%).

Segundo a Diretora de Clima e Biodiversidade da SDE, o novo mapa proporciona a base de dados necessária para o planejamento territorial, tanto em escala estadual, como municipal; ele permite priorizar programas de desenvolvimento regional e de uso e conservação de recursos naturais; permite quantificar o estoque de carbono contido nas florestas das propriedades rurais; possibilita a implantação de programas de Pagamentos por Serviços Ambientais, remunerando, por exemplo, ações de proteção e restauração de florestas.

O trabalho foi realizado mediante convênio firmado entre a SDE e a Universidade Regional de Blumenau (FURB) entre 2016 e 2020. Participaram da equipe, coordenados pelo prof. Alexander Christian Vibrans, os técnicos MSc. Adilson Nicoletti, MSc. Murilo Schramm da Silva, MSc. Debora V. Lingner, Engª. Fernanda dal Bosco, Eng. Marcus M. Bueno e Thales B. Pessatti, assim como os acadêmicos Artur Bizon, Gabriel Panca, Thuane L. Faria, Marlon Y. Andrade, além dos professores Dr. Julio C. Refosco e MSc. Luciana Araújo Kohler (FURB) e Dr. Veraldo Liesenberg (UDESC). O mapa pode ser acessado no site http://monitora.furb.br/.

20 novas espécies para a ciência

Quarta, 09 Setembro 2020


Desde o início dos trabalhos de coleta de dados em campo, o Inventário Florístico Florestal de Santa Catarina preocupou-se com a qualidade das identificações botânicas e com um componente praticamente exclusivo: a coleta de todo material fértil dentro e nos arredores das 500 unidades amostrais implantadas.

Foram coletadas, no primeiro e segundo ciclo, mais de 30 mil plantas férteis, todas registradas no herbário FURB (http://furb.jbrj.gov.br/). O primeiro ciclo foi marcado por coletas mais intensas, pois todas as plantas vasculares férteis tinham recomendação de coleta. No segundo ciclo as coletas foram qualificadas. Sabendo o que já foi coletado na unidade amostral e arredores no primeiro ciclo, o biólogo de campo pode focar nas ainda não coletadas (evitando a coleta repetida das mesmas espécies, ampliando assim a riqueza local conhecida). A descrição de novas espécies ajuda a reduzir o Déficit Lineano de conhecimento da biodiversidadee demonstra que, apesar de Santa Catarina ser um estado pioneiro no conhecimento de sua flora, há muitas espécies ainda desconhecidas.

Dentre as mais de 30 mil coletas, 20 foram descritas como novas pela ciência (artigo citados ao final), desde holótipos até parátipos. Abaixo a lista (e algumas fotos) das novas espécies, descritas por especialistas, com base em coletas do IFFSC:

AMARYLLIDACEAEHippeastrum verdianum Büneker & R. Bastian; categoria tipo: Parátipo; cidade: Treviso — Büneker, H.M., and R.E. Bastian. 2018. “Taxonomic novelties in southern brazilian Amaryllidaceae – IV: Hippeastrum correiense (Bury) Worsley, the correct name of the famous H. morelianum Lem.; and H. verdianum, a new species from Santa Catarina.” Balduinia 64 (November): 42. doi:10.5902/2358198035738 

BEGONIACEAEBegonia trevisoensis J.C. Jaramillo; categoria tipo: Holótipo; cidade: Treviso — Jaramillo, J.C., L.D.J.C. Kollmann, and P. Fiaschi. "Begonia trevisoensis, a new species of Begonia sect. Pritzelia (Begoniaceae) from Santa Catarina State, Brazil." Phytotaxa 381.1 (2018): 51-57.doi:  10.11646/phytotaxa.381.1.8

BLECHNACEAESalpichlaena volubilis (Kaulf.) J.Sm.; categoria tipo: Isoneótipo; cidade: Ascurra — Cárdenas, G.G., S. Lehtonen, and H. Tuomisto. 2019. “Taxonomy and evolutionary history of the neotropical fern genus Salpichlaena (Blechnaceae).” Blumea 64 (1): 1–22. doi:10.3767/blumea.2018.64.01.01.

BROMELIACEAEVriesea rubens J. Gomes-da-Silva & A.F.Costa; categoria tipo: Holótipo; cidade: Orleans — Gomes-da-Silva, J., and A.F. Costa. 2011. “A taxonomic revision of Vriesea corcovadensis group (Bromeliaceae: Tillandsioideae) with description of two new species.” Systematic Botany 36 (2): 291–309. doi:10.1600/036364411X569499.

CAMPANULACEAE Siphocampylus baccae Funez & Hassemer; categoria tipo: Parátipo; cidade: Rio do Sul e Siphocampyluss evegnaniae Funez & Hassemer; categoria tipo: Parátipo; cidade: Doutor Pedrinho — Funez, L.A., and G. Hassemer. 2016. “Two narrowly endemic new species of Siphocampylus (Campanulaceae) from Santa Catarina, Southern Brazil.” Phytotaxa 278 (3): 241–256. doi: /10.11646/phytotaxa.278.3.4

EUPHORBIACEAEActinostemon roselii L. Oliveira, A.L. Melo & M.F. Sales; categoria tipo: Parátipo; cidade: Angelina — Oliveira, L.S.D., A.L. Melo, M.J. Silva, P.P. Eymael, and M.F. Sales. 2015. “A new south Brazilian species of Actinostemon (Euphorbiaceae).” Systematic Botany 40 (2): 522–526. doi:10.1600/036364415X688709.

MALVACEAECallianthe flava Grings; categoria tipo: Parátipo; cidade: Videira; Callianthe maritima Grings; categoria tipo: Parátipo; cidade: Itapema e Callianthe sulcatarinensis Grings; categoria tipo: Parátipo; cidade: Turvo. — Grings, M., and I.I. Boldrini. 2020. “Three new south american species of Callianthe (Malveae, Malvoideae, Malvaceae) from Atlantic Forest and a new combination.” Phytotaxa 450 (3): 257–272. doi:10.11646/phytotaxa.450.3.2.

ORCHIDACEAECampylocentrum schlechterianum E. Pessoa & M. Alves; categoria tipo: Holotipo; cidade: São Martinho — Pessoa, E., and M. Alves. 2015. “Three new species of Campylocentrum (Vandeae, Orchidaceae) from Brazil.” Phytotaxa 217 (3): 265–272. doi:10.11646/phytotaxa.217.3.3.

POACEAEChascolytrumneo bulbosum Funez; categoria tipo: Parátipo; cidade: Joinville — Funez, L.A., and E.R. Drechsler-Santos. 2019. "Chascolytrumneo bulbosum (Poaceae: Pooideae), a new species from southern Brazil." Phytotaxa 424: 115-122. doi: 10.11646/phytotaxa.424.2.5

POLYGONACEAEPersicaria sylvestris Funez & Hassemer; categoria tipo: Parátipo;cidade: Apiúna — Funez, L.A., and G. Hassemer. 2018. “Novelties in the genus Persicaria (Polygonaceae) in Brazil: a new species, a new combination, and a diagnostic key to all species.” Nordic Journal of Botany 36 (1): 1–7. doi:10.1111/njb.01631.

Callianthe flava. A. Habitat e hábito. B. Hábito. C. Ramo com flores pendentes. D. Superfície abaxial da folha. E. Flor. F. Haste e estípula mostrando o indumento. G. Esquizocarpo. H. Corola e tubo estaminal. I. Superfície adaxial da folha.
Callianthe maritima. A. Habitat e hábito. B. Hábito, observar os ramos laterais dísticos. C. Superfície abaxial da folha. D. Flor com cálice lanuginoso. E. Superfície adaxial da folha. F. Esquizocarpo imaturo com cálice acrescente. G. Esquizocarpo maduro. H. Haste e estípula com indumento lanuginoso. I. Duas flores pendentes em uma axila de folha.
Callianthe sulcatarinensis. A. Habitat e hábito. B. Hábito, ramos laterais não dísticos. C. Superfície adaxial da folha. D. Flor. E. Superfície abaxial da folha. F. Esquizocarpo imaturo com cálice acrescente. G. Esquizocarpo maduro. H. Indumento de vapor mostrando uma predominância de tricomas glandulares.
Siphocampylus sevegnaniae.  A. Detalhe da corola em vista frontal. B. Detalhe dos lóbulos do cálice. C. Detalhe da corola em vista lateral. D. Lâmina da folha na face adaxial. E. Hábito. F. Detalhe da margem da lâmina foliar. 
Siphocampylus baccae. A. Detalhe da corola em vista frontal. B. Detalhe da corola em vista lateral. C. Detalhe dos lóbulos da fruta e do cálice. D. Lâmina da folha na face adaxial. E. Detalhe da margem da lâmina foliar. F. Hábito.
Hippeastrum verdianum. A. Habitat em escarpa rochosa com cachoeira, a seta indica os indivíduos. B. Hábito durante a antese no habitat. C. Detalhe da inflorescência, planta em cultivo. D. Tépalas de uma flor dissecada. a - tépala superior do verticilo externo; b e f - tépalas superiores do verticilo interno; ce - tépalas inferiores do verticilo externo; d - tépala inferior do verticilo interno E. Detalhe da paraperigona.
Siphocampylus sevegnaniae.  A. Detalhe da corola em vista frontal. B. Detalhe dos lóbulos do cálice. C. Detalhe da corola em vista lateral. D. Lâmina da folha na face adaxial. E. Hábito. F. Detalhe da margem da lâmina foliar. 

Integrante do IFFSC em intercâmbio na Inglaterra: um relato das atividades desenvolvidas

Segunda, 30 Março 2020

O Eng. Florestal Msc. Daniel Augusto da Silva, integrante da equipe científica do IFFSC, realizou um estágio de intercâmbio de seis meses na Universidade de Newcastle, na Inglaterra, com bolsa do programa PDSE-CAPES e no âmbito de sua pesquisa de doutorado. Daniel está em seu terceiro ano de doutorado, pelo programa de pós-graduação em Eng. Ambiental, da Universidade Regional de Blumenau. Ele retornou ao Brasil no dia 21 de março, após concluir as etapas previstas no seu plano de trabalho.

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Silva, D.A. da, Pfeifer, M., Pattison, Z., Vibrans, A.C. Drivers of leaf area index variation in Brazilian Subtropical Atlantic Forests. Forest Ecology and Management, 476, 118477, 2020.

https://doi.org/10.1016/j.foreco.2020.118477 

Leia abaixo o relato do Daniel sobre as atividades desenvolvidas durante o intercâmbio:

Daniel em frente à Universidade de Newcastle, Inglaterra

Durante o período de 07/10/19 e 20/03/2020 estive trabalhando juntamente com a pesquisadora Dr. Marion Pfeifer no grupo de pesquisa Modeling Evidence and Policy (MEP) na Universidade de Newcastle, em Newcastle Upon Tyne, UK. O objetivo do intercâmbio (bolsa PDSE-Capes) era aprender novas técnicas de modelagem ambiental utilizando dados especializados e definir objetivos e técnicas de análises para todos os capítulos da tese, aproveitando a vasta experiência da Dr. Pfeifer e demais pesquisadores do MEP. Meu projeto aborda a estrutura do dossel da floresta, principalmente o Índice de Área Foliar (IAF) e fechamento do dossel (FCover) e tem como objetivo entender quais fatores internos e externos influenciam estas variáveis e qual a relação dessas variáveis com a conservação e restauração florestal. Minha primeira e principal atividade junto ao MEP foi desenvolver a hipótese e análises para descrever fatores externos que interferem nos valores de IAF observados nas unidades amostrais do IFFSC. 

Fig. 1 - Hipótese gráfica desenvolvida em parceria com pesquisadores do MEP

Juntamente com os pesquisadores Dr. Steven Rushton e Dr. ZarahPattison eu e Dr. Pfeifer desenvolvemos a hipótese de trabalho de forma gráfica (Fig. 1), à qual aplicamos a técnica Structural Equation Modeling (SEM), que nos permite identificar as influencias diretas e indiretas dos variáveis descritoras sobre umas às outras e sobre a variável resposta. 

Os fatores externos foram definidos de acordo com revisão bibliográfica e nosso conhecimento empírico do local de estudos. A utilização da técnica de SEM nos permitiu identificar complexas relações entre fatores ambientais e atividades humanas, como concentrações urbanas e plantios agrícolas.  A proximidade à borda da floresta foi o principal fator influenciando diretamente os valores de IAF, e, por sua vez, sofreu forte influenciadas áreas agrícolas e proximidade a áreas urbanas. O artigo referente a esse estudo está em fase de finalização para ser publicado ainda no primeiro semestre de 2020. A segunda atividade desenvolvida na Universidade de Newcastle, foi o desenvolvimento de um algoritmo que permite extrapolar os valores de IAF medidos nas unidades amostrais do IFFSC para toda a cobertura florestal de Santa Catarina, utilizando dados espectrais do sensor espacial Landsat 8 OLI. Para tanto utilizamos a técnica de inteligência artificial randomforest, implementada na plataforma Google Earth Engine. O objetivo desse estudo é, a partir do mapa estadual de IAF, da relação entre IAF e biomassa e da grande disponibilidade de imagens Landsat OLI, identificar áreas com desmatamento ou corte seletivo utilizando séries temporais. Finalmente, foi consolidada a colaboração entre o IFFSC e o Global LAI Project, base de dados global de valores de IAF e FCover coordenado pela Dr. Pfeifer. Aproveitando a base de dados iremos realizar um estudo avaliando as forçantes ambientais em escala Pantropical utilizando SEM’s como ferramenta de modelagem. Além do mais, objetivos e metodologias foram traçados para mais dois capítulos da tese, envolvendo a relação entre estrutura do dossel e o nível de maturidade e conservação da floresta em um e a influencia da estrutura do dossel, em especial o fechamento (FCover), na regeneração natural da floresta e potencialmente em projetos de restauração.”